quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Estudo indica que vício em heroína pode ser tratado com a própria droga!!!


O tratamento mais seguro e efetivo para indivíduos extremamente viciados em heroína e que não conseguem controlar o vício usando metadona e outros métodos pode ser a própria droga, adquirida com receita médica. É isso o que os pesquisadores estão dizendo após o primeiro teste rigoroso desta abordagem realizado na América do Norte.

Há anos, países europeus como a Suíça e a Holanda permitem que médicos forneçam a alguns viciados receitas para a aquisição de heroína como uma alternativa à compra da droga nas ruas. O estudo revelou que o tratamento é seguro e mantém os viciados longe de problemas. Porém, a abordagem é polêmica - não só porque a droga é ilegal, mas também porque as autoridades governamentais temem que o tratamento à base de heroína possa intensificar o vício. O estudo, que foi publicado em uma edição recente do periódico "New England Journal of Medicine", poderá acabar com alguns desses temores.

"Ele revelou que a heroína funciona melhor do que a metadona nesta população de usuários, e que os pacientes demonstram grande disposição para utilizá-la", afirma Joshua Boverman, psiquiatra da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, em Portland.

De acordo com Boverman, a maior deficiência do tratamento à base de metadona talvez seja o fato de que "muitos pacientes não desejam tomar esta droga; eles simplesmente não gostam dela".

No estudo, pesquisadores no Canadá utilizaram 226 indivíduos que eram viciados antigos e que não conseguiram melhorar usando outros métodos, incluindo terapia de manutenção à base de metadona. Os médicos consideram a metadona, um produto químico parecido com a heroína que previne a síndrome de abstinência, mas que não tem os mesmos efeitos estupefacientes, o melhor tratamento para a toxicomania. Uma nova droga, a buprenorfina, também é efetiva.

Os pesquisadores canadenses dividiram de forma aleatória os voluntários em dois grupos. Os integrantes do primeiro grupo tomaram metadona e os membros do segundo grupo receberam injeções diárias de diacetilmorfina, o ingrediente ativo da heroína. Um ano depois, 88% dos indivíduos que receberam o componente da heroína ainda permaneciam no estudo, e dois terços deles haviam reduzido significativamente as suas atividades ilícitas, incluído o uso de drogas adquiridas nas ruas. Já no grupo da metadona, 54% ainda permaneciam no estudo e, destes, 48% reduziram as suas atividades ilícitas.

"A principal descoberta foi que, para este grupo que é geralmente tido como não tratável, tanto a metadona quanto a prescrição de heroína podem proporcionar benefícios reais, diz o principal autor do estudo, Martin T. Schechter, que é professor da Escola de Saúde Pública e de População da Universidade da Colúmbia Britânica.

Aqueles que receberam injeções de heroína sofreram mais efeitos colaterais; houve dez casos de overdose e seis convulsões. Mas Schechter afirma que não houve sinais de uso abusivo da droga. A dose média recebida pelos participantes foi de 450 miligramas, uma quantidade bem inferior ao nível máximo de 1.000 miligramas.

Cerca de 663 mil norte-americanos são usuários regulares da heroína, segundo estimativas do governo. Os pesquisadores afirmam que entre 15% e 25% desses indivíduos fazem uso intenso da droga e poderiam beneficiar-se da prescrição médica de heroína. Mas isso se algum dia eles tiverem tal oportunidade. A heroína é ilegal, classificada nos Estados Unidos como "Substância de Nível 1", o que significa que existe um alto potencial para o uso abusivo e que a droga não tem nenhuma utilidade médica legítima. Os pesquisadores acreditam que é improvável que essa designação seja modificada tão cedo.

Em um editorial que acompanhou o artigo, Virginia Berridge, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, concluiu: "A ascensão e a queda dos métodos de tratamento nesta área polêmica baseiam-se nas evidências científicas, mas frequentemente elas estão mais vinculadas à conjuntura política".

Escrito por: Benedict Carey/The New York Times
Tradução: UOL

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